Conheça a história de Douglas Aparecido o jovem catarinense que chegou parar brigar pelo título no CRP
Aos 24 anos, o sonho do catarinense Douglas Aparecido desde criança era montar em touros. Aos 12 anos se aventurou pela primeira vez em cima de um touro e começou a treinar como podia. Santa Catarina, seu estado natal, não abriga muitos rodeios e isso era uma dificuldade para a profissionalização dele.
Alguns anos depois, quando ele estava com 16 anos, tudo mudou. “Desde pequeno foi o meu sonho. Comecei a me dedicar aos treinos até que com 16 anos montei meu primeiro rodeio profissionalmente. Foi a minha forma de começar e também treinar, já que em Santa Catarina não temos tantos competidores, boiadas e arenas para treino”.
Ele lembra que logo em seu primeiro rodeio profissional voltou para casa com o título de campeão. “Foi em São Miguel do Oeste/SC, em fevereiro de 2013. Tive que me emancipar para montar. Temos poucos rodeios, eventos aleatórios, não temos constância de rodeios por lá. Como disse, não é uma região com tanta opção de locais para treinar e se aprimorar, tive que começar direto”.
Nos dois rodeios seguintes, ele também venceu. No quarto, lembra que ‘bateu na trave’. “Começar assim foi muito bom. Com 16 anos e conquistando três vitorias seguidas. Quando senti a emoção tive certeza de que era isso que realmente queria para minha vida, sempre foi sonho e já começar com o ‘pé direito’ foi muito bom”, lembra.
Mas nem tudo foi glória nesse começo. Além das falta de boiada na cidade e poucos eventos para ele ir e arenas para treinar, falta tradição e incentivo. “Fica bem difícil arrumar quem invista no rodeio lá em Santa Catarina, que esteja disposto a fazer eventos maiores. Então, para quem quer começar não tem onde treinar, não tem companheiro para estar junto, trocar informações. Sem contar a distancia dos grandes centros do rodeio, por isso tive que sair do estado para tentar virar um peão”.
Em sua busca pela profissionalização, ainda tinha 15 anos e tentava de todas as formas chegar a eventos maiores. Foi então que teve contato com os organizadores de um evento de maior porte e pôde mostrar um pouco da sua técnica. Suas montarias chamaram atenção do pessoal. Essas mesmas pessoas organizavam a equipe do Rio Grande do Sul para montar no Rodeio Interestadual de Barretos.
Douglas agarrou essa chance. Eles, inclusive, já tinham sido campeões dessa competição por dois anos, e o convidaram para fazer parte da equipe no ano seguinte. Esse fato foi um divisor de águas, pois Douglas se animou mais ainda para fazer sua emancipação e poder montar no rodeio profissional, mesmo tendo menos de 18 anos. E assim ele fez, começou a ir nos rodeios já emancipado, e teve a chance de não só conhecer como montar na arena mais famosa da América Latina, Barretos.
Uma coisa puxou a outra e em 2017 Douglas montou em um rodeio filiado à LNR – Liga Nacional de Rodeio, cujo o campeão ganhava vaga para a final em Barretos. “Nessa época, considero que estava em um momento bastante difícil da minha carreira, desanimado, sem montar bem, pensando até em parar de montar. Fui nesse rodeio sem pretensão nenhuma de ganhar, e acabou dando certo. Parei nos meus touros e ganhei o rodeio, ficando com a vaga para a disputa da Liga em Barretos”.
Era a chance que faltava para ele tomar a decisão de sair de Santa Catarina em busca de melhores condições no esporte. Foi para São Paulo, se dedicou ainda mais aos treinos para se preparar para a final da LNR. “Foi o prazo que me dei para ver o que ia dar. Se eu não montasse bem eu ia largar a mão disso por um tempo”. Ele treinou, se preparou e tudo melhorou. “Acabei montando super bem em Barretos, cheguei à rodada decisiva na final da Liga e ganhei a vaga para montar no The American”, conta Douglas.
Mas ele não chegou a ir para os Estados Unidos, pois seu visto foi negado duas vezes. “Sempre tive esse sonho também, de ir para os Estados Unidos. Tentei o visto da primeira vez, mas não estava esperando que desse certo, o que acontecesse estava bom, por isso me conformei quando não saiu”, explica o competidor.
Mas os amigos passaram a incentivá-lo a tentar de novo. “Então, acabei criando expectativas. E quando foi negado de novo fiquei chateado e frustrado. Mas acho que não era o momento mesmo, não era pra ser”. Ergueu a cabeça e focou em montar melhor ainda nos eventos do Brasil, de olho no Circuito Rancho Primavera. Em 2019, conversou com algumas pessoas e falou do seu interesse em participar do CRP.
“Fiquei esperando minha oportunidade. No começo de 2020 voltei a tentar, fiquei esperando abrir vaga, mas tinha que esperar o pessoal do ano anterior participar as primeiras etapas. Nesse meio tempo fiquei sabendo que a comissão da etapa de Luiziânia/SP, que era etapa do CRP, tinha como indicar competidores convidados. Corri atrás e consegui a inscrição. Montei bem e pontuei para o CRP, conseguindo entrar para o campeonato”.
Entre os objetivos dele em sua carreira, em que ele já tem títulos também no Paraná, São Paulo e Minas Gerais, daqui para frente está continuar no CPR, que na opinião de Douglas é, sem dúvida, o melhor campeonato do Brasil hoje. “Mas tenho a intenção de ir para os Estados Unidos. O visto ainda não deu certo, mas quero continuar tentando. Todo peão almeja chegar ao campeonato mundial”.
Algumas linhas atrás, Douglas contou de um momento difícil na carreira, mas ele detalha mais como tudo começou. “No final de 2015 sofri uma lesão bem grave no rodeio de Cachoeira Alta/GO, tomei uma pancada e sofri traumatismo craniado. Fiquei três dias em coma e cinco meses afastado do rodeio. Queria voltar a montar logo e assim que pude, já no começo de 2016, voltei. No começo parecia que tudo estava como antes, montei bem nos rodeios, ganhei prêmio, mas depois tudo mudou”, lembra.
Douglas não ficou com sequelas aparentes depois do acidente, mas começou a se sentir diferente após alguns meses de volta às atividades. “Voltar de lesão não é fácil e quando voltei senti o reflexo um tempo depois, não montava bem, tinha dificuldades, pensei seriamente em dar um tempo do rodeio”.
Se ele faria tudo de novo? “Com certeza! Não em arrependo de nada do que fiz e acredito que ainda tem muito para fazer. Quero agradecer a todos que torcem por mim e todos que vibram a cada montada minha, é algo que dá mais motivação para gente”.
Vitória CRP Chapecó
Douglas Aparecido foi campeão da etapa do CRP230 em Assis/SP, realizada através de LIVE com 346,5 pontos. “A expectativa [antes de um rodeio] é sempre das melhores. Queremos chegar e montar bem, parar nos touros, poder aproveitar. E eu tinha me preparado bem para poder ir para essa etapa. Durante a semana, nos treinos, estava bem preparado, com cabeça boa, confiante, e pronto para tudo. Graças a Deus deu certo”, comemora.
Segundo ele, foi uma vitória gratificante. “A gente treina muito, se dedica para isso, então ganhar é a recompensa de todo o esforço que a gente faz numa pré-temporada ou durante a temporada, nossos treinamentos. Já fazia um tempo que eu estava brigando por essa fivela, não tinha ganhado nenhuma dentro do campeonato. Então, foi muito gratificante para mim”, afirma o competidor, reforçando que a vitória o ajudou a subir no ranking, importante duplamente.
Uma boa escada no ranking, de fato, já que Douglas agora é o terceiro melhor do campeonato CRP 2021, 2330,75 pontos, 450 pontos atrás do líder, que é Daniel Batista. “Para a minha temporada foi uma ótima vitória. Sem contar que eu ganhei parando em todos os meus touros, o que para mim é melhor ainda. E para o campeonato também, já que quanto mais paradas melhor para a gente somar pontos no ranking geral. Parei em todos os touros, fiz alguns bônus diários, o que me ajudou ainda mais na classificação geral”.
Douglas lembra ainda, que por conta da pandemia o número de etapas do campeonato é menor que o normal. “Essa foi a quinta etapa do campeonato e já estamos no meio do ano. Foi muito importante ganhar e entrar no Top 5 do ranking. Quero chegar ao final da temporada bem próximo da liderança, pois vou tentar brigar pelo título do CRP 2021.
Um dos touros que montou nessa etapa da Assis que ele diz como destaque foi o touro Ramadã, que montou no primeiro dia. “Ele era um touro invicto dentro do campeonato e fora do campeonato também, acredito que ele não tinha nenhuma outra parada dentro do rodeio até hoje. E na primeira noite eu pude parar nele e ter a primeira parada desse touro”.
Ele afirma ainda que o fato o marcou bastante. “Tenho certeza que muita gente vai lembrar por isso, por eu ter quebrado a invencibilidade de um touro famoso, no momento dele, um dos touros mais puladores do momento, é um reconhecimento importante no cenário nacional. Além do reconhecimento, trás auto-estima, confiança, muda tudo, é outra coisa. Então foi uma parada bem importante para mim”.
Por Eugênio José
Foto: Joice Helena / Ricardo Mariotto